Mulheres podem ser pastoras
[PVE] Thomas Schreiner –
Se alguém me
perguntar se as mulheres podem servir no ministério, minha resposta será
sempre: “Sim, claro! Todos os crentes são chamados a servir e a ministrar uns
aos outros.”
Mas eu responderia
de forma diferente se a pergunta fosse feita mais precisamente: “Existe alguma
função do Ministério em que as mulheres não podem servir?” Eu diria que o Novo
Testamento ensina claramente que as mulheres não devem servir como pastores (que
o Novo Testamento também chama de superintendentes ou anciãos/presbíteros).
Fica claro no Novo Testamento que os termos pastor, superintendente, e
presbítero referem-se ao mesmo cargo (cf. Atos 20.17,28; Tito 1.5,7; 1 Pedro
5.1-2), e para o restante deste ensaio vou usar os termos “presbítero” e
“pastor” indiferentemente para designar essa função.
A PROIBIÇÃO DE PAULO EM 1 TIMÓTEO 2.12
O texto
fundamental que estabelece que as mulheres não devam servir como presbíteros é
1 Timóteo 2.11-15. Nós lemos no versículo 12: “Eu não permito que a mulher
ensine, nem exerça autoridade sobre homem.” Nesta passagem, Paulo proíbe as
mulheres de se envolverem em duas atividades que caracterizam o ministério dos
presbíteros: o ensino e o exercício da autoridade. Vemos isso nas qualificações
para o cargo, entre outros lugares: os presbíteros devem ter a capacidade para
ensinar (1Tm 3.2; 5.17, Tito 1.9, cf. Atos 20.17-34) e liderar a igreja (1Tm
3.4-5;). As mulheres são proibidas de ensinar aos homens e de exercer autoridade
sobre eles e, portanto, segue-se que elas não devem servir como presbíteros.
Essa proibição vigora ainda hoje?
O mandamento de
que mulher não ensine a homens ou exerçam autoridade sobre eles foi escrito
estar em vigor ainda hoje? Muitos afirmam que Paulo proibiu as mulheres de
servirem como presbíteros, porque as mulheres nos dias de Paulo eram iletradas
e, portanto, elas não tinham a capacidade de ensinar bem aos homens.
Argumenta-se ainda que as mulheres fossem responsáveis pela falsa doutrina que
estava atrapalhando a congregação para a qual Paulo escreveu a carta de 1
Timóteo (1Tm 1.3, 6.3). De acordo com essa leitura, Paulo apoiaria mulheres
servirem como “pastoras”, após serem devidamente instruídas a ensinar a sã
doutrina.
A proibição é fundamentada na criação e não em
circunstância
Estas tentativas
de relativizar a proibição de Paulo devem ser julgadas falidas. Paulo poderia
ter facilmente escrito: “Eu não quero que as mulheres ensinem ou exerçam
autoridade sobre os homens porque elas são ignorantes”, ou “Eu não quero que as
mulheres ensinem ou exerçam autoridade sobre os homens porque elas estão
espalhando falsos ensinamentos.” No entanto, qual o motivo que Paulo realmente
dá para o seu mandamento no versículo 12? O raciocínio de Paulo para o mandamento
está no versículo seguinte: “Pois primeiro foi formado Adão, depois Eva” (v.
13). Paulo nada diz sobre a falta de educação ou sobre mulheres estarem
promulgando falso ensino. Em vez disso, ele apela para a ordem da criação, para
a boa e perfeita vontade de Deus ao formar os seres humanos. É imperioso
observar que a referência à criação indica que o mandamento é uma palavra
transcultural, uma proibição que é obrigatória para a igreja de todos os tempos
e em todos os lugares. Ao dar esta proibição, Paulo não apela para a criação
caída, às consequências que dizem respeito à vida humana como um resultado do
pecado. Ao contrário, ele fundamenta a proibição na criação totalmente boa que
existia antes de o pecado entrar no mundo.
O argumento da
criação não pode ser descartado como culturalmente limitado. Além disso, o Novo
Testamento contém muitos recursos semelhantes aos da ordem da criação. Por
exemplo, a homossexualidade não está de acordo com a vontade de Deus, porque é
“contrário à natureza” (Rm 1.26), isto é, que viola o que Deus pretendia quando
ele fez o ser humano como homem e mulher (Gn 1.26-27). Da mesma forma, Jesus
ensina que o divórcio não é o ideal divino uma vez que, na criação, Deus fez um
homem e uma mulher, o que significa que um homem deve ser casado com uma mulher
“até que a morte nos separe” (Mt 19.3-12). Assim, também, o alimento deve ser
recebido com gratidão, pois é um dom da mão criadora de Deus (1Tm 4.3-5).
Em 1 Timóteo
2.11-15, Paulo especificamente fundamenta sua proibição das mulheres de ensinar
e exercer autoridade, na ordem da criação, ou seja, que Adão foi feito primeiro
e depois Eva (Gn 2.4-25). A narrativa de Gênesis é cuidadosamente calculada, e
Paulo, sob a inspiração do Espírito Santo, ajuda-nos a ver o significado de Eva
ter sido criada depois de Adão. Críticos ocasionalmente objetam que o argumento
não é válido uma vez que os animais foram criados antes dos seres humanos. Mas
eles perdem o ponto de Paulo. Somente os seres humanos são criados à imagem de
Deus (Gn 1.26-27), e, portanto, Paulo comunica a importância de Deus criar o
homem antes da mulher, ou seja, que o homem é responsável por liderar.
Paulo dá uma
segunda razão pela qual as mulheres não deveriam ensinar ou exercer autoridade
sobre os homens em 1 Timóteo 2.14: “Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo
enganada, caiu em transgressão.” A argumentação de Paulo aqui não é que as
mulheres são mais propensas ser enganadas do que os homens, porque em outro
lugar, ele elogia as mulheres como professoras de mulheres e crianças (Tito
2.3, 2Tm 1.5; 3.14-15), que ele não recomendaria, se as mulheres, por natureza,
estivessem propensas a serem enganadas. É provável que Paulo estivesse pensando
mais uma vez no relato da criação, pois a serpente subverteu a ordem criada ao
enganar Eva e não Adão (assim subvertendo a liderança masculina), embora,
provavelmente, Adão estava com Eva quando ocorreu a tentação (Gn 3:6). O
versículo 14 não ensina nada sobre as mulheres serem iletradas, o engano é uma
categoria moral, já a falta de educação é sanada com a instrução.
O engano de Eva
não pode ser atribuído à fraqueza intelectual, mas foi devido à sua rebeldia, o
desejo de ser independente de Deus. Além disso, a referência ao engano aqui não
indica que as mulheres de Éfeso, desempenhavam um papel fundamental na difusão
de ensino falso, pois os falsos mestres nomeado em 1 Timóteo são todos homens
(1 Tm. 1.20). Na verdade, se as mulheres tivessem sido proibidas de ensinar
porque eram defensoras da falsa doutrina, temos a estranha e muito improvável
situação de que todas as mulheres cristãs de Éfeso foram enganadas pelo falso
ensino. Pelo contrário, o ponto de Paulo é que a tentação de Satanás sobre Eva,
em vez de sobre Adão, subvertia a liderança masculina, pois ele tentou e enganou
a mulher, mesmo estando Adão presente com Eva quando a tentação ocorreu. Na
verdade, apesar de Eva ter sido enganada pela serpente primeiro, a principal
responsabilidade pelo pecado caiu sobre os ombros de Adão. Isto é evidente em
Gênesis 3, pois o Senhor fala primeiro com Adão sobre o pecado do primeiro
casal, e isso é confirmado por Romanos 5.12-19, onde o pecado da raça humana é
atribuída a Adão e não a Eva.
Em resumo, 1
Timóteo 2.12 proíbe as mulheres de ensinar ou exercer autoridade sobre os homens
na igreja. Este mandamento é fundamentado na ordem da criação e é confirmado
pela inversão de papéis que ocorreu a queda. Não é, portanto, um contexto
cultural ou uma proibição limitada que já não se aplicaria às igrejas de hoje.
O TESTEMUNHO DE OUTRAS PARTES DA ESCRITURA
O que aprendemos sobre os papéis do homem e da
mulher na criação
O que vemos acerca
dos papéis de homens e mulheres no resto da Escritura confirma esta leitura de
1 Timóteo 2:11-15. O livro do Gênesis nos dá seis elementos que evidenciam a
responsabilidade dada aos maridos na liderança do casamento: 1) Deus criou Adão
primeiro e depois Eva, 2) Deus deu o mandamento de não comer da árvore a Adão e
não a Eva; 3) Adão foi quem deu nome à “mulher” tal como ele deu nome aos
animais, significando a sua autoridade (Gênesis 2.19-23) e 4) Eva é designada
como auxiliadora de Adão (Gn 2.18); 5) A serpente enganou Eva e não Adão, assim
subvertendo liderança masculina (Gn. 3.1-6) e 6) Deus veio a Adão em primeiro
lugar, mesmo tendo Eva pecado primeiro (Gn 3.9, cf. Rm. 5.12-19).
O que aprendemos nos ensinamentos bíblicos sobre o
casamento
Tal leitura do
Gênesis se encaixa perfeitamente com o que encontramos sobre o casamento no
Novo Testamento. Maridos têm a responsabilidade primária de liderança, e as
esposas são chamadas a se sujeitar à liderança de seus maridos (Ef 5.22-33; Cl
3.18-19; 1 Pd 3.1-7). O convite à esposa para submeter-se não está fundamentado
em meras normas culturais, pois uma mulher é convidada a sujeitar-se ao marido
como a Igreja é convidada a submeter-se a Cristo (Ef 5.22-24). Paulo designa o
casamento como um “mistério” (Ef 5.32), e o mistério é que o casamento espelha
o relacionamento de Cristo com a Igreja. O mandato para homens servirem como
pastores (e não mulheres), então, se encaixa com o padrão bíblico de liderança
masculina e autoridade dentro do casamento.
É fundamental
observar que um papel diferente para as mulheres não significa inferioridade
das mulheres. Mulheres e homens são igualmente criados à imagem de Deus
(Gênesis 1.26-27). Eles têm acesso igual à salvação em Cristo (Gl 3.28), e eles
são co-herdeiros da grande salvação que é nossa em Jesus Cristo (1 Pd 3.7). Os
escritores bíblicos não difamam a dignidade, inteligência e personalidade das
mulheres. Vemos isso mais claramente quando reconhecemos que, como Cristo se
submete ao Pai (1 Coríntios 15.28), assim as mulheres se submetem aos seus
maridos. Cristo é de igual dignidade e valor com o Pai, e por isso a sua
submissão não pode ser entendida como sinalização de sua inferioridade.
O que aprendemos em outras passagens sobre mulheres
na igreja
O texto de 1
Timóteo 2.11-15 não é o único texto que exige um papel diferente para homens e
mulheres na igreja. Em 1 Coríntios 14.33-36, Paulo ensina que as mulheres não
devem falar na igreja. Esta passagem não proíbe as mulheres de falar qualquer
coisa na congregação, Paulo até incentiva as mulheres a orar e profetizar na
igreja (1 Coríntios 11.5). O princípio de 1 Coríntios 14.33-36 é que as
mulheres não devem falar de tal maneira que se rebelem contra a liderança
masculina ou tomem para si autoridade indevida, e este princípio corresponde
com o ensino de 1 Timóteo 2.11-15 de que as mulheres não deveriam ensinar nem
exercer autoridade sobre os homens.
Outro texto que
aponta na mesma direção é de 1 Coríntios 11.2-16. Já vimos que Paulo nessa
passagem permite que as mulheres orem e profetizem na assembléia. É imperativo
ver que a profecia não é o mesmo dom do ensino. Estes dons são distintos no
Novo Testamento (1 Coríntios. 12.28). Mulheres serviram como profetas no Antigo
Testamento, mas nunca como sacerdotes. Da mesma forma, serviram como profetas
no Novo Testamento, mas nunca como presbíteros. Além disso, 1 Coríntios 11.2-16
deixa claro que, ao profetizarem, elas deviam se adornar de tal maneira que
demonstrasse que elas estavam submissas a uma liderança masculina (1 Coríntios
11.3). Isso se encaixa com o que temos visto em 1Tm 2.11-15. Mulheres não são
as líderes da congregação, e, portanto, não devem ser reconhecidas como
professoras e líderes. A questão fundamental em 1 Coríntios 11.2-16 não é o
adorno das mulheres. Estudiosos não têm certeza, neste caso, se o adorno
descrito representa um véu ou uma forma específica de usar o cabelo. Tal adorno
era necessário na época de Paulo porque significava que as mulheres eram
submissas à liderança masculina na igreja. Hoje, a forma como uma mulher usa o
seu cabelo, ou se ela usa um véu, não significa que ela seja submissa à
liderança masculina. Assim, devemos aplicar o princípio (mesmo não aplicando a
prática cultural da época) no mundo de hoje: as mulheres devem ser submissas à
liderança masculina, que se manifesta em não servir como pastores e mestres dos
homens.
Conclusão
As escrituras
ensinam claramente sobre o papel singular das mulheres na igreja e em casa.
Elas são iguais aos homens em dignidade e valor, mas elas têm um papel
diferente durante esta jornada na terra. Deus lhes deu muitos presentes
diferentes com que podem ministrar para a igreja e para o mundo, mas elas não
foram criadas para servir como pastores. O Senhor não deu seus mandamentos para
punir as mulheres, mas para que possam servi-lo com alegria segundo a Sua
vontade.
Por Thomas R.
Schreiner.