Em
Levítico 17,7 e 2Crônicas 11,15, o termo (se‘irim, no
plural) é usado com referência a coisas a que se dá adoração e se oferecem
sacrifícios em conexão com o paganismo. Na Versão dos Setenta grega,
a palavra é vertida "coisas sem sentido" e na Vulgata latina,
"os demônios" (a versão Ave Maria traduz como "sátiros").
Tradutores modernos e lexicógrafos muitas vezes adotam o mesmo conceito,
traduzindo-a por "demônios", "sátiros" (Al, ALA, CBC, PIB)
ou "demônios caprinos". — NM; Lexicon in Veteris Testamenti Libros, Hebrew, German and English Lexicon of the Old Testament.
Aparentemente,
os israelitas haviam sido influenciados até certo ponto pela
idolatria praticada no Egito. (Jos. 24,14; Eze. 23,8,?1) Por isso, alguns
eruditos acham que Levítico 17,7 e 2Crônicas 11,15 indicam que existia alguma
forma de adoração de bodes entre os israelitas, como havia de modo destacado no
Egito. Heródoto afirma que os gregos derivaram deste culto egípcio a sua crença
em Pan e nos sátiros, deuses lascivos da floresta, representados com chifres,
rabo de bode e pernas de bode.
A
Bíblia não diz o que, exatamente, eram tais "peludos ou hirsutos". O
termo não necessariamente indica ídolos em forma de bode, pois o uso de
"bodes" pode apenas ser uma expressão de desprezo, assim como a
palavra para "ídolo" se deriva dum termo que originalmente
significava "bolotas de esterco". É possível que "peludos"
ou "bodes" simplesmente indicasse que, na mente dos que os adoravam, tais
deuses falsos eram concebidos como de forma caprina ou peluda na aparência.
O
sentido de se’irim em Isaías 13,21 e 34,14 não é tão claro,
visto que não se condena ali diretamente o paganismo. Descrevendo a ruína
desolada em que se tornaria Babilônia, Isaías escreveu: "Porém, nela, as
feras do deserto repousarão, e as suas casas se encherão de corujas; ali
habitarão os avestruzes, e os sátiros pularão ali." (Isa. 13,21) É
interessante notar que a Versão dos Setenta diz
neste caso "demônios" (a versão da Bíblia Judaica de Lesser diz
"espíritos maus" e a Bíblia de Rotherham diz
"criaturas peludas"); e em Ap. 18,2, a descrição de Babilônia, a
Grande, menciona que ela é moradia de aves impuras e de "demônios".
Por
conseguinte, se se’irim, em Isaías 13,21 e 34,14, há de ser
entendido como se referindo a algo além do significado de "bode", é
apropriada a tradução "demônios caprinos", coerente com a tradução em
Levítico 17,7 e 2Crônicas 11,15.
Isaías
pode ter intercalado na sua lista de animais e aves literais uma referência aos
demônios, não querendo dizer que se materializariam em forma de bodes, mas que
os pagãos em redor de Babilônia e de Edom imaginariam que tais lugares fossem
habitados por demônios. A História mostra que o povo da Síria e da Arábia já
por muito tempo associava criaturas monstruosas com tais ruínas. E se houve
animais hirsutos nas ruínas desoladas de Edom e de Babilônia, os observadores
talvez fossem induzidos a pensar em demônios.
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