Conflitos
de Jesus com os Escribas/Fariseus no Evangelho de Marcos.
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PASTOR CARLOS_EM: 03/01/2016 |
Prof. Odalberto Domingos Casonatto
Encontramos no capítulo
primeiro de Marcos sete sinais, que dão início a vida pública de Jesus, e
resume praticamente todo o evangelho. Os capítulos 2 e 3 abrem com o primeiro
conflito dos sete que encontramos no evangelho entre Jesus e os escribas/fariseus
que zelavam pela Lei judaica. Constatamos por duas vezes o número 7, nos
primeiros capítulos de Marcos considerado biblicamente como o número da
perfeição. O povo bíblico não dava aos números um significado matemático ou
racional, mas sim um sentido mais amplo e simbólico. Assim constatando o número
sete para milagres e para conflitos, nosso olhar deve ultrapassar o número sete
como quantidade acabada, mas sim que Jesus realizou durante a sua vida publica
muitos milagres e com as autoridades do judaísmo em especial fariseus e
escribas aconteceram muitos conflitos, não apenas estes sete descritos no
evangelho. No olhar que daremos aos conflitos poderemos constatar duas
verdades:
- Os que repeliram o
ensinamento de Jesus foram sempre às autoridades judaicas defensoras do
Judaísmo.
- os que receberam
benefícios com a ação e atividade de Jesus foram os pobres e os que estavam à
margem do sistema judaico do puro e do impuro.
Assim pouco a pouco
iremos descobrir os projetos que aparecem no texto do evangelho:
- O projeto
do Povo guiado
por Jesus
- O projeto
das elites que
queriam manipular o pensamento do povo.
Assim durante seu
ministério durante a vida pública, todas as ações empreendidas em favor do
povo, encontrava resistência das autoridades judaicas, que mantinha uma
situação de faixada com o Império Romano. As ações de Jesus em favor dos que
estavam excluídos da sociedade sempre foram consideradas como impróprias e
conflitantes.
Como
entender os conflitos que enfrentou Jesus.
Sugerimos utilizar uma
chave de Leitura que facilitará a compreensão dos conflitos:
Qual seria esta chave de
leitura?
A ação de Jesus em
Marcos é em favor dos pobres e marginalizados da sociedade da época. As ações
de Jesus comprovam quem Ele é verdadeiramente. Jesus não é simplesmente um
reformador social, como tantos que surgiram na sua época, mas ele é o
Cristo/Messias esperado pelos Judeus é o filho de Deus enviado pelo Pai (conf.
Mc 1,11).
Na compreensão mais
ampla desta chave de leitura do evangelho de Marcos podemos utilizar algumas
perguntas para entender cada um dos conflitos:
- Jesus conflitou com
quem?
- Quais foram os motivos
do acontecido?
- Como o povo vivia?
- O que Jesus faz e que
gera oposição?
- A ação de Jesus trouxe
beneficio para quem?
- Resultado final do
conflito.
Primeiro
conflito – Jesus e o Perdão dos pecados Mc 2,1-12
Para os escribas existia
somente uma norma para o perdão dos pecados: “Só Deus pode perdoar pecados”. O
sistema judaico seguia este caminho para alguém receber o Perdão de seus
pecados: deveria ir até o templo de Jerusalém e ofertar um sacrifício de
animais. Os fariseus assim pensavam, pois conheciam muito bem o que dizia a
lei:
“...quem
pode perdoar os pecados a não ser o Deus único?”(Marcos 2,7) Bíblia de
Jerusalém.
E isto só podia acontecer
através do serviço do Templo através dos sacerdotes.
Neste episódio acontece
algo novo, Jesus perdoa os pecados sem mesmo que a pessoa tenha que se dirigir
ao Templo e fazer ofertas e sacrifícios. O fato torna-se polemico os escribas
não aceitam as palavras de Jesus e viam nesta atitude de Jesus alguém que
queria destruir os fundamentos da organização religiosa e política do Templo. A
preocupação dos escribas, conhecedores da lei era simplesmente conservar o
cumprimento da lei judaica. Jesus ao contrário vê o sistema de morte que a lei
subjugava o povo e se preocupa com a vida e a saúde das pessoas. Jesus esta
agindo em nome de seu Pai e começa a tratar de modo diferente os que eram
considerados pecadores. (Lembro o fato que a doença na concepção judaica esta
ligada ao pecado).
A narrativa de Marcos
capítulo 2 conclui com a frase do vers. 12:
“...de sorte
que todos ficaram admirados e glorificavam a Deus dizendo: Nunca vimos coisa
igual” (Evangelho de Marcos 2,12) Bíblia de Jerusalém.
Segundo
conflito – Jesus come com os pecadores Mc 2,13-17
O conflito se dá pelo
fato de Jesus não se importar em caminhar com os pecadores e muito menos de ir
a suas casas e se assentar na mesma mesa para se alimentar. O acontecimento
alcança a dimensão de conflito porque se refere a um cobrador de impostos. Na
sociedade judaica os cobradores de impostos eram desprezados por que serviam ao
Império Romano e sempre sonegavam para eles certas quantias de impostos.
Passavam a serem pecadores públicos. Durante a refeição na casa de Levi, onde
se reuniram também os pecadores e publicanos, Jesus responde aos escribas dos
fariseus, depois de ouvir suas reclamações:
“...Eu não
vim chamar justos, mas pecadores.” (Evangelho de Marcos 2,17 Bíblia de
Jerusalém.
Em outras palavras Jesus
quer dizer eu não vim para vocês que se consideram justos na sociedade, mas
para aqueles que são desprezados e considerados pecadores. Neste ponto Jesus
fala de sua missão.
Terceiro
conflito – Jesus não jejua e quebra com o judaísmo Mc 2,18-22
O Jejum era um tempo de
espera ou mesmo de demonstração de piedade. Os judeus acreditavam que fazendo
jejum aproximariam com rapidez a chegada do messias. Os seguidores de João
Batista jejuavam pelo menos uma vez por semana e Jesus é criticado porque seus
discípulos não jejuavam, alegando que Jesus o Messias estava presente. O fato
vem demonstrar que o sistema religioso Judaico se apega a prática das leis, e
pouco se importava com a situação das pessoas. Neste conflito de Jesus com os
fariseus Ele diz:
“Ninguém faz
remendo de pano novo em roupa velha; porque a peça nova repouxa o vestido velho
e o rasgo aumenta” (Evangelho de Marcos 2,21) Bíblia de Jerusalém.
Com estes exemplos do
“remendo e do vinho novo” Jesus quer dizer que sua vinda exige mudança total
nas pessoas, na política, na economia e na religião e não apenas querer fazer
pequenos remendos nas leis ou na consciência das pessoas.
Quarto
conflito – Jesus e o trabalho realizado em dia do sábado Mc 2,23-28
Para o judaísmo o dia do
sábado era sagrado. Era uma instituição. A observância da lei do sábado estava
acima de tudo, até mesmo da pessoa humana. O problema que ocorre é que os
discípulos passando pelos trigais da Samaria colhiam espigas de trigo. Esta
atividade era proibida por lei, e não era permitido preparar alimento em dia de
sábado ou mesmo trabalhar.
Jesus quer justificar
esta ação dos seus discípulos retrucando para os fariseus usando um fato
bíblico conhecido. Jesus recorda a passagem em que Davi junto com seus
companheiros estando com fome violara a lei do sábado. Jesus mais ainda conclui
que é permitido violar a lei do sábado em caso de necessidade ou fome. Dizendo
que a lei e a observância do sábado estão a serviço do homem. Existem e estão a
serviço do homem e não estão contra o homem. Querer observar irrestritamente
esta lei, seria o mesmo que não se alimentarem naquele dia. Confiramos o texto
de Marcos:
“27 Então
lhes disse. O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado, de
modo que o filho do homem é senhor até do sábado.” (Evangelho de Marcos 2,27)
Bíblia de Jerusalém.
Quinto
conflito – Jesus cura em dia do sábado Mc 3,1-6.
Na cura do doente Jesus
entra em conflito com os fariseus, devido à observância da lei do sábado.
Repete-se nesta cura o fato ocorrido no quarto conflito. Os fariseus veem em
Jesus, alguém que desrespeita a lei e faz um trabalho. Novamente Jesus entra em
diálogo com os fariseus e questiona se é permitido fazer o bem ou o mal, curar
ou matar as pessoas. O texto assim esclarece:
“4 E
perguntou: É permitido, no dia de sábado, fazer o bem ou fazer o mal? Salvar
uma vida ou matar? Eles porem se calaram” (Evangelho de Marcos 3,4) Bíblia de
Jerusalém.
Os Judeus ouvem
atentamente as interpelações de Jesus e nada respondem, o que os torna
culpados, porque sabem muito bem o que todo o judeu observante deve fazer.
Jesus continua sua
atividade e cura o doente, justificando que a vida humana e muito mais
importante do que a observância do trabalho no dia do sábado e que para salvar
a vida humana se pode violar a lei. Permanecendo numa posição farisaica ou
querendo procrastinar para o amanhã a prática que gera vida, estamos optando e
aceitando hoje a morte. Jesus nos indaga para uma ação prática não teórica: o
que devemos fazer de imediato hoje.
Sexto
conflito - Jesus age em nome de Belzebu Mc 3,20-30.
Jesus entra em conflito
com os escribas. A maneira de Jesus agir era muito estranha para os escribas.
Procuravam um argumento forte para que toda a fama de Jesus vinda das curas,
milagres e discursos convincentes fosse paralisada. Queriam condenar a Jesus
pelo convencimento de sua argumentação em que Jesus dizia que tudo isto tem a
força de seu Pai, Deus. Pelo contrario os escribas afirmam que a atividade e
ação de Jesus vem inspiradas por Belzebu e pela força e poder do chefe dos
demônios.
“22 Os
escribas que haviam descido de Jerusalém diziam: Belzebu está nele, e também: É
pelo príncipe dos demônios que ele expulsa os demônios” (Evangelho de Marcos
3,22) Bíblia de Jerusalém.
As ações e obras de
Jesus acontecem pela força e o poder do Espírito Santo. Jesus fala aos escribas
completando, que Ele não realiza suas ações por Belzebu. E completa como
Satanás expulsaria o próprio Satanás, ele estaria se destruindo a si mesmo.
Jesus condena a acusação feita contra ele que seria um pecado sem perdão e
contrapõe dizendo a blasfema contra o Espírito Santo é o único pecado que dura
para sempre e que os errados seria eles que estavam o acusando.
Sétimo
conflito - A família de Jesus - Mc 3,31-35.
O capítulo 3 de Marcos
encerra com sétimo conflito de Jesus com os escribas. O assunto é sua família.
O Judaísmo dá muita importância à família de sangue. É pela Mãe que vem a
descendência. Jesus quebra os laços familiares de sangue é anuncia para si uma
nova família.
Reúnem-se em torno da
casa em que Jesus está sua mãe, seus irmãos e estão à espera de Jesus.
Comunicam a Jesus que seu grupo familiar esta fora da casa a sua espera. Então
Jesus diz para eles:
“34.... Eis
a minha Mãe e os meus irmãos. 35Quem fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão
e mãe.”(Evangelho de Marcos 3,34-35) Bíblia de Jerusalém.
Embora os fariseus e os
de sua família colocam resistência em aceitar seu projeto, outra parte da
sociedade os excluídos, os marginalizados, os cegos, os paralíticos, as
mulheres e os discípulos passam a serem seguidores de seu Projeto
Fontes de consulta:
Balancin, E. M., Como
ler o Evangelho de Marcos, Paulinas - São Paulo, 1991.
Arquidiocese de Porto
Alegre, Jesus no Evangelho de Marcos, Animação Bíblica da Vida Pastoral,
edições Calábria - Porto Alegre, 2012.
JEREMIAS, Joachim, Jerusalém
no tempo de Jesus, pesquisa de história econômica social no período
neotestamentário, Nova
Coleção Bíblica, vol. 16, Paulinas - São Paulo, 1983.
CEBI, Introdução
Geral aos Evangelhos, Evangelho de Marcos e Mateus, Roteiros para Reflexão VII, Cebi - São
Leopoldo, 1998.
CRB, Seguir
Jesus: Os evangelhos, coleção
tua palavra é vida 5, Edições Loyola - São Paulo, 1994.
CASONATTO, O. D., Como ler o Novo Testamento,
subsídios para aulas no Instituto de Teologia de Passo Fundo, RS (ITEPA), Passo
Fundo, 1996.
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