Nesses dias
tenho pensado em algo: Quão ingrato é o trabalho de pastorear ovelhas. Se tudo
vai bem, é porque as ovelhas estão bem. Se algo vai mal, é porque quem
pastoreia não está fazendo algo direito. O mérito nunca é nosso, a culpa,
sempre é.
A obra de Deus nos causa dor.
Essa
afirmação pode não soar muito bem no coração de alguns, mas, quem está
envolvido na obra e tem participação ativa no propósito eterno de Deus, sabe do
que eu estou falando. Envolver-se com a obra não é algo fácil. Para
alguns, estar envolvido com a obra é bom porque dá status. Esses são lobos
vorazes, fazem porque isso lhe agrada e se comportam como o fariseu descrito em:
Lucas 18:10-13 10 Dois homens
subiram ao templo, para orar; um, fariseu, e o outro, publicano.
11 O fariseu,
estando em pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, graças te dou porque não
sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como
este publicano.
12 Jejuo duas vezes
na semana, e dou os dízimos de tudo quanto possuo.
13 O publicano,
porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas
batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!
14 Digo-vos que este desceu
justificado para sua casa, e não aquele; porque qualquer que a si mesmo se
exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado.
que orava
de si para si mesmo. Muitos se envolvem com a obra porque traz satisfação
pessoal. O prazer desses é de si para si mesmo. Não têm compromisso com a obra,
nem com as pessoas, mas com o status que a obra dá.
Para
outros, não. Esses são mais sinceros. Fazem pelo Senhor. Se gastam, se
envolvem, investem em vidas, dão seu tempo, abrem suas casas, expõem suas
famílias, derramam suas vidas... Esses sabem que seu trabalho, em Deus, não é
vão. Paulo disse aos Gálatas (Gl 4:19) 19 Meus filhinhos, por quem
de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja formado em vós;
que sentia dores de parto por eles
até que Cristo fosse formado naquela igreja. Ora, a mulher sabe que suas dores
de parto tem tempos contados. Em João 16:21 a palavra diz
que a mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza porque é chegada a sua
hora; mas, depois de ter dado à luz a criança, já não se lembra da aflição,
pelo gozo de haver um homem nascido ao mundo. Quando
Paulo afirmou aos Gálatas que sentia dores de parto por eles, o tempo final
dessas dores seria o dia em que Cristo fosse aperfeiçoado neles.
Ou seja, Paulo não vislumbrava um
tempo muito próximo em que essa dor fosse ter fim. Ele se envolveu com aquela
gente sabendo que seu sofrimento no cuidado da vida deles não tinha um tempo
determinado para cessar.E isso não foi um privilégio apenas dos Gálatas. Na
carta aos Colossenses (Cl 1:24) Paulo diz: “Agora me regozijo no meio dos meus sofrimentos por vós, e
cumpro na minha carne o que resta das aflições de Cristo, por amor do seu
corpo, que é a igreja;”. Paulo estava consciente de que
ele estava cumprindo o que restou das aflições de Cristo por amor a igreja. Que
revelação !!! A obra não era algo fácil. Ele não podia tratar a obra
levianamente. Ele não podia “empurrar com a barriga”. Ele sabia que havia sido
chamado para sofrer e que estava trilhando um caminho de dores que havia sido
trilhado primeiramente por Jesus.Para alguns essa revelação pode significar o
início de tempos de choro, mas não deve ser assim. Apesar de saber que ele
havia sido chamado para sofrer e para sentir dores, Paulo também sabia que esse
chamado era motivo de alegria. Aos Filipenses, Paulo diz que
suplicava por eles com alegria no coração (Fp 1:4). Aos corintios, Paulo diz que
mesmo entristecido, ele se alegrava no Senhor (II Co 6:10).
Mas de onde poderá vir essa alegria?
Como poderemos nos alegrar num serviço tão doloroso, com tanto
sofrimento? Pedro teve uma revelação profunda desse sofrimento. Na
primeira carta de Pedro (I Pe 4:13), ele
diz: “mas regozijai-vos por serdes participantes das aflições de Cristo;
para que também na revelação da sua glória vos regozijeis e exulteis.” E (I Pe 4:19) “Portanto os que sofrem segundo a vontade de Deus confiem as suas almas
ao fiel Criador”.
A alegria de Pedro era saber que
quando Cristo se revelasse na sua glória, eles seriam recompensados pela
obediência e seriam participantes da alegria do Senhor, assim como participaram
de seus sofrimentos.Mas de onde Pedro tirou essa revelação? Num certo momento,
Pedro teve um encontro com Jesus após a ressurreição de Cristo, onde Cristo
apareceu no mar de Tiberíades. Pedro chegou na praia e encontrou Jesus diante
de uma fogueira e comeram juntos. E depois de terem comido iniciaram um diálogo
muito conhecido:
João 21:15-17 Depois de terem comido, perguntou Jesus a Simão Pedro: Simão Pedro:
Simão, filho de João, amas-me mais do que estes? Respondeu-lhe: Sim, Senhor; tu
sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta os meus cordeirinhos. Tornou a
perguntar-lhe: Simão, filho de João, amas-me? Respondeu-lhe: Sim, Senhor; tu
sabes que te amo. Disse-lhe: Pastoreia as minhas ovelhas. Perguntou-lhe
terceira vez: Simão, filho de João, amas-me? Entristeceu-se Pedro por lhe ter
perguntado pela terceira vez: Amas-me? E respondeu-lhe: Senhor, tu sabes todas as coisas; tu sabes que te amo.
Disse-lhe Jesus: Apascenta as minhas ovelhas.
A revelação de Pedro estava aí.
Pedro, assim como Paulo, sabia que o ministério dele era sofrer e sentir dores
no cuidado da igreja, mas onde estava o motivo de alegria? A alegria estava no
chamado. Pedro sabia que ele havia sido chamado pelo Senhor. Não era qualquer
um que o havia chamado. Não foi uma assembléia que o escolheu. Não foi um
desejo pessoal de se projetar, de se auto promover. Não havia desejo de status,
nem de ostentar uma posição de destaque. Havia um chamado do próprio Jesus.
Pedro havia sido, pessoalmente, incumbido pelo Senhor. Havia um chamado
celestial. Essa revelação também Paulo tinha, quando afirmou nas cartas a
Timóteo que ele era apóstolo por ordem (I Tm 1:1) 1 PAULO, apóstolo de
Jesus Cristo, segundo o mandado de Deus, nosso Salvador, e do SENHOR Jesus
Cristo, esperança nossa, e pela vontade de
Deus:
(II Tm 1:1). 1 PAULO, apóstolo de
Jesus Cristo, pela vontade de Deus, segundo a promessa da vida que está em
Cristo Jesus,
Paulo afirma na 1ª carta a Timóteo (I Tm 3:1) que aquele que
aspira o episcopado, excelente obra almeja. Ora, os
que estão desempenhando o episcopado, sabem o quão doloroso é esse serviço.
Onde está pois a excelência? A excelência está na obediência ao chamado de
Cristo. A excelência está em atender ao chamado de Cristo.Sempre que sentirmos
dores ou sofrermos no cuidado de vidas, no cuidado de pessoas, da igreja,
sempre nos perguntarmos por que estamos envolvidos nisso, sempre que sentirmos
a carne reclamar por direitos e por recompensas por esse trabalho muitas vezes
com dores e sofrimento, precisamos, nesse momento, ouvirmos o chamado do
Senhor: TÚ ME AMAS? ENTÃO, APASCENTA AS MINHAS OVELHAS.
Tenho me alegrado nesse serviço, não
porque ele tenha recompensas, mas porque eu amo o Senhor. E apascentar as suas
ovelhas é fruto do amor a Ele. Sofro, por amor a Ele. Sinto dores, por amor a
Ele. Sirvo, porque fui chamado por Ele. Essa deve ser a nossa alegria. E se
você está envolvido na obra, lembre-se: FAÇA POR AMOR AO SENHOR. I Coríntios 13:4-8a O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se
vangloria, não se ensoberbece, não se porta inconvenientemente, não busca os
seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal; não se regozija com
a injustiça, mas se regozija com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera,
tudo suporta. O amor jamais acaba.